terça-feira, 17 de setembro de 2013

Caetano

Caetano começa a mexer,
pernas, mãos, cabeça.
Meu corpo fica a tremer
junto com o coração e
as minhas mãos.
Sinto ele bem mais perto de mim,
somos um,
mas somos dois corações.
Eu respiro
e sinto que tudo vai bem,
Caetano respira
e sinto o mundo mudando.
Logo logo ele vem,
ficará agarrado em meus seios,
depois se atentará ao mundo,
caminhará seus primeiros passos,
ganhará sua primeira palavra-falada,
sorrirá ao brincar com o Tiquim.
Tomara que ele puxe a calma do pai,
que ande a correr como a mãe,
e que faça tudo valer,
como só ele poderá fazer.
Tomara, Caetano, tomara!
Um dia, num fim de tarde,
pedalaremos como grandes amigos,
e apreciaremos o por do sol
e toda a vida que ele faz brotar,
igual a tantos outros Caetanos,
e único para mim.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O machismo na maternidade

Desde que engravidei consigo localizar situações machistas com mais facilidade, deve ser a sensibilidade e a questão de gerar um menino. Escuto todo tipo de coisa, como por exemplo que o pai nos primeiros dias de vida do bebê  fora da barriga é inútil. E querendo ou não acabo exigindo muito do meu companheiro, assim como inevitavelmente penso em como seria ser mãe solteira, sem a participação ativa do meu companheiro. Pra minha sorte, meu namorado é super atencioso e acredito também que vai ser um super pai, mas isso não quer dizer que eliminamos o machismo ao nosso redor, vindo tanto de amigos próximos e queridos como dos familiares e também das relações de trabalho, ambos trabalhamos em ambientes de alto grau de machismo. Hoje mesmo, nasceu a filha do meu colega de trabalho, e ele tirou sua licença de 5 dias corridos, o que também acho um absurdo, já afasta a criança do pai desde muito cedo. E acontece que no trabalho todos ficaram chateados por que ele tirou essa licença, segundo o pessoal, é desnecessário o pai nesse momento, pois ele não é pra cuidar da criança ou não sabe fazer por natureza. Que absurdo! Chamaram o rapaz até de "viadinho" por querer cuidar da sua filha. Aí existem também vários outros pequenos agravantes, quando o casal fala que tá esperando um neném, os amigos geralmente olham para o homem e dizem: "vamos encher a cara quando?" E quando descobrimos o sexo do neném é a mesma coisa: "Vamos beber para comemorar!" E quando rola o chá de fraldas, já perguntam pela bebedeira dos machos, e tem também de quando o neném nasce e quando o neném mija e tudo é motivo para o pai e seus amigos comemorarem. Poxa, acho tão desagradável essa coisa de o homem ter de beber o tempo inteiro na gestação enquanto a mulher está gerando uma vida, está se preocupando com a chegada do bebê, com a melhor maneira de cuidar, de se cuidar, de fazer um bom pré-natal, fazer um exercício legal, sair com os amigos para conversar sobre isso e coisas a mais, sem precisar ser aquela saída onde todos bebem e enchem a cara. Cada momento tem seu lugar. E a sociedade sempre puxa o homem para um lugar que não é o mais próximo da realidade de um pai presente. Já ouvi até um comentário super desagradável de uma mãe-mulher dizendo: "homem que cuida do neném faz menos sexo." Ah tá, só se for. Me incomoda o fato da mãe crescer, enquanto o pai continua naquela velha brincadeira de menino. Claro que não estou generalizando, existem homens mais maduros e que encaram a paternidade de outra maneira. Mas a maioria reage como se tivesse perdido um pedaço da vida, e precisasse aproveitar o máximo possível, como se o filho fosse roubar as coisas boas da vida dele, e a sua companheira também. E é nessa linha que seguem todos esses comentários machistas, e acentuam o lado que diz que é somente responsabilidade da mãe cuidar da criança. Que se exploda esse pensamento reacionário, egoísta, agressivo e machista. Que se explodam as pessoas que querem continuar a legitimar esse círculo vicioso de homens-meninos-idiotas-machistas que estão presente em nosso meio. Eu desejo e quero muito educar meu filho longe de tudo isso, ou pelo menos dando a possibilidade de fazer diferente. Quando as pessoas se ausentarem um pouco mais dos seus esteriótipos de gênero e forem mais Ser Humano do que um homem ou mulher, talvez tenhamos o mundo um pouco melhor. Talvez não sejam feito tanta escrotice com as mulheres, as crianças e os homo afetivos. O modelo de sociedade em que vivemos foi construído ao decorrer de muitos anos em cima de muita estupidez, e assim continuamos, mas não precisamos. E aqui fica meu repúdio aos homens que não tem a sensibilidade ou coragem de exercer uma boa paternidade, ou aos que conseguem fazer os piores comentários possíveis a respeito desse assunto.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Encontrando um obstetra

Eu estava com mais de um ano sem ir ao meu ginecologista quando engravidei. Ele havia mudado de consultório, e suas consultas haviam ficado mais difíceis. Eu que nunca gostei muito de ir aos médicos, foi super tranquilo passar um tempo sem ir ao ginecologista.. Mas, engravidei, e como toda boa grávida, tive que ir atrás de um obstetra. Nos primeiros momentos não me ative ao meu antigo ginecologista-obstetra, e como minha cunhada ia ao seu ginecologista, pedi para fazer um encaixe na consulta pra ver se tava tudo legal comigo. E fomos. Foi ótima a primeira consulta, estava tudo bem, eu estava realmente buchuda, e o médico não havia implicado com a minha relação com meu cachorro. Então seguimos. Na segunda consulta rolou um atraso meu, e para remarcar essa segunda vez foi uma demora gigantesca, já me chatiei um pouco, pois a atendente não era simpática e nem legal, sem contar que nunca lembrava de mim. Mas enfim, consegui a tal consulta e dessa vez fui com minha irmã. Levei meu livro de cabeceira: PARTO ATIVO, levei também um exemplo de plano de parto, e algumas perguntas na cabeça. Ele me examinou e pela segunda vez disse que tava tudo bem, achava que era um menino, mas só o exame mais tarde confirmaria. E sentamos para conversar, ele sempre muito conciso, e sempre com um jeito brincalhão meio irônico. Mostrei o livro, falei de parir em várias posições, mostrei o plano de parto, e bem, recebi o que menos queria, na saída ele me disse: É, leia essa doidinha (com a autora do livro), faça sua Yoga e vamos vendo. Riu também antes quando falei de não ter o neném na posição horizontal e sim na vertical, caso me sentisse a vontade, e ele não me foi receptivo. Em meias palavras, saí de lá com um nó na garganta e me sentindo super mal.
Certo dia, estava eu lendo sobre parto natural, quando apareceu o nome do meu antigo ginecologista numa palestra sobre a temática. Fiquei super empolgada em descobrir que ele seguia essa linha. Minha mãe que também é paciente dele, conseguiu marcar uma consulta para um mês a frente. Esperei ansiosa e no dia da consulta fui vê-lo. Não levei livros, nem nada, apenas ansiedade. Cheguei lá, já fui super atendida pela atendente, que me deu um abraço e disse: "Nossa, você já tá com um barrigão!" Eu ri, e sentei. Até que a porta do consultório dele se abriu, e ele pediu para eu entrar. Estava sério e um pouco diferente de um ano atrás. Pegou minha ficha antiga, deu uma olhada calado, e eu fiquei pensando mil coisas nesse meio tempo, enquanto tocava um fundo musical indiano super tranquilo e relaxante. Então ele me fez umas perguntas, perguntou sobre o meu parceiro, viu os exames, disse que ia pedir outros, escutamos o coração do neném, e depois ele me olhou e disse: "Percebi que você quer ter um parto normal, estou certo?" e eu respondi: "Sim, quero o mais natural possível, eu vi seu nome numa palestra sobre o tema, era o senhor mesmo?" ele riu e afirmou que sim. Então perguntei se ele conhecia o livro Parto Ativo, ele respondeu com empolgação que sim, e disse que já ia me indicar ele, que autora é ótima e referência. Aí entrou no assunto de que existem poucos médicos que trabalham essa linha, e que ele era um desses, falou que cobrava um valor, e me disse pra ficar a vontade quanto a escolha do médico. E antes que eu respondesse algo, ele preencheu o cabeçalho de um livro fofo, e me deu, disse que falava sobre cada fase da gravidez, e que poderia ser como um diário para mim, que nele eu anotasse dúvidas e levasse para ele. Me deu também duas meias e uma vitamina. Gente, fiquei muito contente, e resolvi seguir com minhas perguntas. Falei que queria uma doula no meu parto, e perguntei o que ele achava. Ele disse: "bem, eu acho ótimo, fique a vontade, mas saiba que eu também tenho uma doula na minha equipe de parto." Achei fantástico a resposta dele. E perguntei se ele tinha alguma restrição quanto a posição de parir. E ele me disse com uma naturalidade muito grande que não. Que eu tinha que ficar muito a vontade no parto. Nessa altura, eu já tava dando pulos de alegria por dentro. Então conversamos mais um pouquinho sobre o lance de parir naturalmente, nos entendemos muito bem, e eu disse: Dr. Luiz, quero que você mesmo me acompanhe, confio no senhor, e pode parecer besteira para muitas mulheres a questão do parto, mas para mim não é. Ele respondeu com um sorriso sereno: "Então fechou, vamos ficar juntos, e não é besteira não o momento do parto, é muito importante." E me deu a mão. Nos despedimos com um abraço e ainda ganhei dois beijinhos na buchecha. Saí de lá com os olhos cheios de água, mas esperei até chegar ao carro para me derramar em lágrimas, e pensei: Encontrei meu obstetra, confio nele, sei que somente vou fazer uma cesária se for realmente necessário. E agora é seguir, tranquila e calma. E chorei mais ainda, até chegar em casa, muito, mas muito aliviada. No meio de tanta gente consegui achar alguém que me entenda e que não vá rir das minhas dúvidas e do meu modo de querer agir. É tão bom encontrar no mundo pessoas que compartilham das mesmas idéias que você, é como não se sentir só. Estou satisfeita e feliz com esse encontro, só tenho a agradecer a mãe natureza e pedir que tudo corra bem.