Não havia tantos carros na época de minha infância, ou mesmo
na adolescência, que já me fazem uns anos. Hoje acordei cedo, e fiquei com uma
lembrança do tempo que passou, das árvores mexendo, do sol ainda não tão
quente, das pessoas nas ruas indo comprar o café da manhã, e das crianças
daquele tempo. Quando sai do antigo bairro que morava quando menina, que era
periférico mas parecia mais um pequeno interior da capital, de nome modesto:
conjunto esperança, na minha cidade batizam os bairros pobres com nomes
fantásticos: jardim encantado, bom jardim, vila união, santa rosa, e por aí
vai. Mas como eu ia dizendo, quando sai do meu antigo bairro de origem, me
pesou a adolescência, a falta dos amigos que cresceram comigo, e lembro-me de
ter sofrido muito essa mudança de localidade, meu coração parecia ter ficado
lá. Mas hoje, quando me deparo com uma manhã de sol e calma, me lembro mesmo é da
infância, do seu Zé da bodega que já morreu, da minha primeira bicicleta, das
brincadeiras numa dessas manhãs tão belas. Lembro também da volta da escola,
com minha melhor amiga, onde o divertimento era curtir o vento que parecia nos
arrastar de tão magras que éramos, de sentar em qualquer banco em qualquer
esquina, sim nos bairros periféricos existem bancos e praças espalhados, assim
como nos interiores. Sentávamos e curtíamos a vida em sua plenitude, adorávamos
as sombras das árvores e nem se quer sabíamos de sua importância. Adorávamos os
fins de tarde, onde íamos num lugar que chamávamos de floresta, mas que era
apenas um monte de plantas juntas e uns banquinhos espalhados perto da estação
de trem. Lembro também de quando ela me chamava pra comprar cheiro verde para
sua mãe e tínhamos que atravessar os trilhos e chegar numa espécie de sítio
onde havia uma família que plantava e vendia verduras, naquela época o mais
emocionante era a travessia e a aventura, o cheiro verde fresco ficava por
conta do delicioso almoço que comeríamos mais tarde. Éramos crianças lindas e
cheias de vida, corríamos entre as ruas, desbravávamos o bairro inteiro, sempre
em andanças e idas e voltas ao colégio. Nos divertíamos muito, até a compra de
um salgado em uma lanchonete perdida, proximo a praça da igreja, nos fazia as
crianças mais felizes do mundo, ah como eu adorava pão de queijo e até hoje gosto
muito. Depois veio a adolescência e aquela coisa louca que só ela nos trás.
Essa fase que eu achei que ia sentir muita saudade na idade adulta, não me faz
tanta falta. Acho que sinto mais falta de um ou dois ou três anos atrás quando
peguei minha bicicleta pela primeira vez e pus me a correr kilometros nela, e
essa, depois da sensação da infância é a sensação mais gostosa de sentir, deve
ser por que me lembra exatamente a calmaria de uma vida simples, deve ser por
que quando fazemos algo apenas para ser feliz, realmente somos. Então ligo as
duas sensações, e vejo que elas podem ser uma e únicas. Hoje estou esperando
nosso adorável Caetano, e confesso que fico bastante preocupada com o mundo que
ele encontrará. Hoje são carros demais, árvores de menos, e as periferias já
não se parecem tanto com interiores. Hoje as crianças não sabem mais da onde os
alimentos vem, nem o prazer de sentar em baixo de uma sombra de árvore, ou pelo
menos é muito mais difícil de acontecer. Esse medo permeia minha alma, mas sei
que as crianças são perfeitas demais, e sempre encontram a natureza dentro de
si, sem querer, com naturalidade, assim como era com nós, pois a pureza só
existe lá na infância, onde ser feliz sem nem se quer procurar por isso, é tão
natural como caminhar. E eu espero que ele encontre um melhor amigo ou amiga de
infância, assim como eu, pois a vida compartilhada é muito mais rica de amor.
Um beijo Rebecca, esse texto dedico a você.
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